terça-feira, 18 de setembro de 2018

Uma viagem de bicicleta pela costa portuguesa


Introdução

Pedalar por toda a costa portuguesa era um sonho de há muitos anos, recentemente tornado realidade. Ao longo de vários fins de semana, na companhia de familiares e amigos, fomos percorrendo os mais de 900 quilómetros da nossa costa, indo ao encontro do encanto das praias, arribas, estuários, baías, promontórios e cidades costeiras do nosso litoral.





A Costa Verde (110km)

Começámos em Caminha, junto à foz do rio Minho e fomos até à Praia do Moledo, pela ecovia do Cristelo, que atravessa a Mata do Camarido. Sempre junto ao mar, continuámos até Vila Praia de Âncora pela ecovia do caminho do sargaceiro.




Para evitar o desconforto das estradas empedradas do litoral minhoto percorremos alguns quilómetros na N-13 e chegámos a Viana do Castelo pela ciclovia litoral norte que se inicia na frente atlântica da cidade, passa pelo centro histórico e termina junto do rio Lima. Depois de atravessar a velha ponte Eiffel, agora exclusivamente pedonal, regressámos à N-13 em direção a Esposende, que abordámos pela ciclovia ribeirinha que segue ao longo da marginal norte do Rio Cávado. Esta etapa terminou no camping de Ofir.



No dia seguinte, tentámos ir junto à costa, mas só encontrámos estradas empedradas, pelo que regressámos à N-13 até à Póvoa de Varzim, onde começa a extensa ciclovia da marginal atlântica, que termina em Vila do Conde junto ao Forte de S. João Baptista.


Depois de passar a ponte sobre o rio Ave a viagem continuou pelas praias de Mindelo e Angeiras e foi pelo passeio marginal de Leça da Palmeira que chegámos ao Porto de Leixões. Entrámos em Matosinhos pela ponte móvel sobre o rio Leça e de novo em ciclovia, pudemos desfrutar da beleza daquela marginal marítima que começa em Matosinhos, continua pela praia da Foz e entra pelo rio Douro até ao cais da Ribeira.


A Costa de Prata (280km)

Depois de almoçar uma francesinha na baixa portuense, entrámos em Vila Nova de Gaia pelo tabuleiro inferior da ponte D. Luís e continuámos pelo passadiço da margem esquerda do Douro até à Afurada. Daqui até Espinho, foram 20 quilómetros de ciclovias espetaculares, que sempre ao lado do mar, cruzam as praias da Madalena, Senhor da Pedra, Miramar e Granja.



Após atravessarmos a movimentada praia de Espinho pela ecovia do litoral Espinho- Silvalde, fizemos um pequeno desvio para espreitar a barrinha de Esmoriz. Logo a seguir, na Cortegaça prosseguimos viagem pela tranquila ciclovia que vai até ao Furadouro onde começámos a ter a companhia da Ria de Aveiro. Sempre ao lado da ria passámos na praia da Torreira e em S. Jacinto apanhámos o ferry que faz a travessia da barra de Aveiro.




Já na Costa Nova, continuámos em ciclovia pelas praias da Vagueira e Cais do Areão, terminando a etapa na Praia de Mira. No dia seguinte, prosseguimos pela esburacada estrada florestal, que passa próximo da praia da Tocha e continua até Quiaios, no sopé da serra da Boa Viagem.




 Para chegar à Figueira da Foz, em vez de subir a serra, optámos por atravessar o cabo Mondego pelo estradão da pedreira, ao lado de falésias perigosas com vistas magníficas. Com o farol à vista, lá no alto, foi preciso vencer a primeira subida em mais de 200 quilómetros!

Depois do farol, foi sempre a descer até à praia de Buarcos, onde tem início a ciclovia da Figueira da Foz, que percorre todo o passeio marítimo e continua pela marina até à estação ferroviária. Após uma paragem na marginal para um refresco, atravessámos a imponente ponte sobre o rio Mondego e continuámos durante alguns quilómetros pela N-109, passando próximo das praias da Costa de Lavos, Leirosa e Osso da Baleia.



Na povoação do Carriço, desviámos à direita para apanhar uma das mais belas e extensas ciclovias nacionais, que se estende até à Nazaré por mais de 40 quilómetros, com passagem pela lagoa da Ervedeira, praia do Pedrógão, praia da Vieira, S. Pedro de Moel, Polvoeira, Paredes de Vitória e Praia Norte da Nazaré. Já se avistava o Santuário da Nossa Senhora da Nazaré quando abandonámos a ciclovia.



Depois de apreciar a espetacular vista do Sítio, descemos até à bela praia da Nazaré, onde o aroma do peixe grelhado nos convidou a almoçar num restaurante ribeirinho. De novo na estrada, passámos o porto de abrigo e subimos a Serra dos Mangues. É uma subida dura, mas a deslumbrante vista lá do alto para as praias dos Salgados e da Nazaré compensa o esforço. Mais à frente, depois de fazermos um pequeno desvio em terra batida para espreitar a bonita praia da Gralha, descemos até à baía de S. Martinho do Porto, que contornámos até Salir do Porto, prosseguindo pela ciclovia da estrada Atlântica até à Foz do Arelho.



Continuámos pelas margens da lagoa de Óbidos, que foi percorrida ao longo da bela ecopista que a contorna em todo o seu perímetro, até à Praia dos Pescadores. A caminho da Praia d’el Rei pedalámos alguns quilómetros em estrada e só próximo da praia de Almagreira voltámos aos caminhos de terra para um pouco de emoção nos divertidos trilhos que, sempre ao lado do mar, nos levam até à praia do Baleal, onde fizemos nova paragem agora para saborear um gelado enquanto apreciávamos os surfistas. Seguimos até Peniche pela ciclovia e contornámos a península passando pelo Cabo Carvoeiro, Forte e Porto de Abrigo.


Prosseguimos pelas praias dos Supertubos e Consolação, e por trilhos sobre as falésias, continuámos até S. Bernardino. A partir daqui, devido ao acidentado da costa, a opção foi pedalar pela N-247 até ao desvio para a praia da Areia Branca (Lourinhã). Só voltámos às ciclovias depois de Porto Novo (Vimeiro), a caminho da praia de Santa Cruz.





A Costa de Lisboa (180km)

De novo por trilhos junto à falésia, continuámos até à praia da Foz do Sisandro. Passámos o rio pela ponte de madeira e sempre por estradas secundárias visitámos as praias da Calada, S. Lourenço e Ribeira de Ilhas. Já o sol se tinha escondido no horizonte quando chegámos à Ericeira, onde terminou esta etapa.




No dia seguinte, após atravessar a foz do rio Lizandro - local repleto de memórias das semanas de campo quer vivi nos meus tempos de tropa em Mafra - prosseguimos até à praia de S. Julião, de novo por trilhos em cima de magníficas falésias.

Até à praia do Guincho, devido à inexistência de ciclovias, circulámos a maior parte do tempo por estradas ou caminhos de terra próximo do mar, passando pelas conhecidas praias do Magoito, Azenhas do Mar e Praia das Maçãs, sempre com a bela vila de Sintra a espreitar lá no alto. Depois de uma paragem na Praia das Maçãs, voltámos a subir bastante até ao desvio para o cabo da Roca – o ponto mais ocidental da Europa. Continuámos a subir até Malveira da Serra, para depois saborear os cerca de sete quilómetros de descida até à praia do Guincho.




Pela ciclovia que segue sempre junto ao mar e com o vento a soprar nas nossas costas, foi num instante que chegámos à Marina de Cascais. Depois de uma paragem na Praia dos Pescadores e de um gelado no Santini, continuámos pela marginal, uma das mais bonitas costas do nosso país.
Mas aqui a vida dos ciclistas não é fácil. Porque não podemos circular no passeio marítimo, temos de pedalar na perigosa estrada marginal. Apesar de ser proibido a nossa opção foi seguir em cima do passeio da estrada marginal. Só em Caxias voltámos às ciclovias, desfrutando da tranquilidade e beleza das margens do rio Tejo e seria assim até Belém, onde ainda houve tempo para comer o famoso pastel de Belém, antes de apanhar o cacilheiro para a Trafaria.



Já margem sul do rio Tejo, prosseguimos pela ciclovia da Costa da Caparica até à Fonte da Telha e a partir daqui, por uma estrada de terra, contornámos a margem norte da lagoa de Albufeira. Depois de lanchar à beira da lagoa, continuámos pela Aldeia do Meco e fomos visitar o cabo Espichel.

Voltámos à estrada e descemos até à praia de Sesimbra pela entrada do castelo, Depois de uma nova paragem, desta vez para um gelado, tivemos que voltar a subir muito até entrar no Parque Natural da serra da Arrábida. Atalhámos por um caminho de terra muito bonito que atravessa uma pedreira e nos leva até à estrada N-379, perto do miradouro da Ponta dos Lagosteiros. A partir daqui foi mais uma descida vertiginosa que nos conduziu até ao Portinho da Arrábida, onde o calor nos convidou a dar um mergulho naquelas águas transparentes e apelativas. Mais frescos, continuámos tranquilamente pelas praias da Figueirinha e Albarquel, atravessámos a fábrica de cimento do Outão e a etapa terminou em Setúbal, onde o jantar foi choco frito…o petisco mais apreciado na região.



Costa Alentejana (190km)

Na manhã seguinte apanhámos o ferry que atravessa o estuário do Sado até Tróia e entrámos na costa alentejana passando pelas praias da Comporta, Carvalhal, Pinheiro da Cruz e Melides. Junto à praia de Melides, através de um atalho pelo pinhal poupámos alguns quilómetros até à lagoa de Santo André.
Retomámos a N-261 até à Vila de Santo André e ao lado da via rápida continuámos até Sines. Junto à central termo elétrica virámos para São Torpes e sempre pela estrada litoral fomos apreciando as belas praias de Porto Covo. Depois de uma pequena paragem no centro de Porto Covo, descemos até ao pequeno porto e continuámos por um caminho de terra até à praia da ilha do Pessegueiro. Como as dunas não nos permitem continuar junto ao mar, fomos apanhar a CM-1072 a caminho de Vila Nova de Milfontes onde fizemos uma paragem para lanchar.


De volta à estrada, atravessámos a ponte sobre o rio Mira e pedalámos alguns quilómetros pela estrada N-39 até ao desvio para essa maravilha da natureza que dá pelo nome de Cabo Sardão e é o ponto mais ocidental da costa alentejana. Em terras da Rota Vicentina, continuámos até à lindíssima praia de Zambujeira do Mar, por uma bonito caminho de terra, sempre ao lado de imponentes escarpas cavadas a pique em direção ao mar.





Prosseguimos por um caminho de terra até à praia do Carvalhal antes de regressar à estrada N-120 e já o sol se tinha posto quando terminámos esta etapa no camping de S. Miguel.
No dia seguinte, após a travessia da ponte sobre a ribeira de Odeceixe, que marca a entrada oficial no Algarve, fizemos um pequeno desvio de 4 quilómetros pela estrada que segue junto ao rio para visitar a praia de Odeceixe, uma das sete praias maravilha de Portugal. De regresso à estrada nacional, fizemos uma paragem perto de Rogil, na irresistível pastelaria Museu da Batata Doce, onde nos deleitámos com uns deliciosos pastéis de batata doce.




Continuámos sempre a descer até Aljezur e dali seguimos em direção ao mar. Depois de mais alguns quilómetros pelos trilhos da rota Vicentina, passando pelas praias da Arrifana e Vale Figueiras, voltámos à N-268 para atravessar a serra antes de mais uma agradável descida até à praia da Carrapateira com a ajuda do vento forte que soprava de Nordeste. E foi num ápice que chegámos a Vila do Bispo, onde voltámos aos trilhos da rota Vicentina. Chegámos ao Cabo de S. Vicente por um magnífico caminho rodeado de vegetação rasteira e salpicado de flores…com o azul do mar sempre em fundo.



A Costa Algarvia (170km)

Tirámos umas fotos no Cabo de S. Vicente e continuámos até Sagres, apreciando as belas praias encaixadas no fundo de falésias abruptas. Depois de uma breve visita à fortaleza, iniciámos a viagem de regresso a Vila do Bispo pedalando contra um vento forte. Foi com alívio que virámos à direita para apanhar a N-125 em direção a Lagos.
Ainda pensámos seguir pela ciclovia algarvia, mas logo percebemos que tinha um traçado mais acidentado do que a estrada nacional. Só na Raposeira desviámos em direção à praia da Salema e continuámos até Lagos pelas praias do Burgau e da Luz.


Depois de atravessar a bonita cidade de Lagos, voltámos à N-125 em direção ao Alvor, onde retomámos o caminho da costa pelas praias do Vau e da Rocha. Era hora de almoço e mais uma vez não resistimos ao apelativo cheiro a sardinhas assadas bem no coração de Portimão. De volta à estrada, atravessámos a ponte sobre o rio Arade em direção ao Ferragudo e seguimos por trilhos muito bonitos sobre grutas e falésias, passando pelas praias do Carvoeiro, Benagil e Nossa Senhora da Rocha. Só em Armação de Pera regressámos às estradas secundárias a caminho de Albufeira, onde passámos sem parar, tal era a confusão de turistas. Continuámos pela Aldeia das Açoteias e uns quilómetros depois chegámos à cosmopolita Vilamoura, em cuja marina fizemos nova paragem para mais um gelado enquanto apreciávamos os belos iates ali ancorados. Após a passagem por Quarteira entrámos nos trilhos da ria Formosa, por onde pedalámos até às proximidades de Faro.





Atravessámos a cidade de Faro e continuámos até Olhão pela N-125. Voltámos às margens da ria Formosa pela excelente ecopista que passa pela Fuzeta, Cabanas, atravessa Tavira e termina perto de Manta Rota. E foi em ecopista que pedalámos os últimos quilómetros por Manta Rota e Monte Gordo, para terminar este desafio em Vila Real de Santo António, na margem direito do rio Guadiana


Balanço

E assim terminámos esta viagem pela costa portuguesa. Ao longo de 900km descobrimos locais espetaculares e ficámos a conhecer melhor a enorme diversidade e os muitos encantos do litoral português. Este imenso património histórico, cultural e paisagístico, associado ao bom clima durante quase todo o ano, apresenta um enorme potencial para que a nossa costa se torne num importante destino do cicloturismo internacional. Mas isso só acontecerá quando a “rede litoral” de ciclovias deixar de ser uma manta de retalhos, e passar a ser uma ciclovia contínua que permita a qualquer cicloturista percorrer toda a costa em total segurança e tranquilidade, desfrutando das cidades, das praias, da gastronomia e da cultura. Para além das ciclovias, também é fundamental investir em estacionamentos seguros, facilidades nos transportes públicos para o transporte de bicicletas e alojamento especializado para receber cicloturistas.

1 comentário:

Luis Eme disse...

Uma forma original e saudável de conhecer o nosso litoral tão rico.

abraço Vitor

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