sábado, 21 de maio de 2016

Fatores que influenciam a utilização da bicicleta nas cidades

Introdução

Em muitas cidades os cidadãos vem reclamando que as vias públicas não podem continuar a ser um exclusivo dos automóveis e que as zonas históricas e residenciais devem ser centros de cultura e lazer, zonas de comércio e serviços, onde deve ser dada prioridade às bicicletas e aos peões, e onde o número de carros estacionados ou a circular deve ser reduzido ou mesmo proibido.

A bicicleta é um meio de transporte acessível a todos os tipos de pessoas, independentemente da idade ou nível socioeconómico, não emite gases poluentes, não faz barulho, exige pouco espaço e baixo investimento em infraestruturas e ajuda a resolver problemas do ambiente, dos transportes e do trânsito.




Na cidade dinamarquesa Copenhaga, que lidera o ranking 2015 das cidades mais amigas da bicicleta, todos os anos o governo dinamarquês investe 3 milhões de euros na criação e conservação de infraestruturas cicloviárias e só na zona metropolitana de Copenhaga existem mais de 1000 km de ciclovias, com 36% dos seus habitantes a pedalarem diariamente para o trabalho, escola ou universidade e apenas 29,1% dos habitantes de Copenhaga possuem automóvel.

Na Alemanha, incentivados por uma rede com 60 000km de ciclovias conjugada com políticas pró bicicleta, cerca de 40 milhões de alemães utilizam regularmente a bicicleta nos trajetos casa-trabalho. A cidade francesa de Estrasburgo promoveu a utilização da bicicleta ao mesmo tempo que encerrou o centro da cidade ao trânsito automóvel e atualmente tem a maior ciclovia de França com 560km, 19 000 lugares de estacionamento de bicicletas e cerca de 4 400 bicicletas de aluguer espalhadas pela cidade. Em Paris, em resultado da conjugação entre o programa de transportes públicos e de aluguer de bicicleta, atualmente 60% dos parisienses não possui carro. Em Nova Iorque, na última década, foi feita uma grande campanha de promoção do uso da bicicleta e muitas faixas rodoviárias foram requalificadas em ciclovias ou vias pedonais. A cidade tem hoje mais de 550km de ciclovias e cerca de 6 000 bicicleta de aluguer.

Na América do Sul, grandes metrópoles como Bogotá, Buenos Aires, Rio de Janeiro e São Paulo também tem investido muito na promoção do uso da bicicleta, como alternativa aos problemas de trânsito e poluição.

 
Benefícios da utilização da bicicleta nas cidades

 Vários estudos tem comprovado que as cidades que nas últimas décadas mudaram as políticas de mobilidade urbana adotando medidas de incentivo à utilização da bicicleta em detrimento dos meios motorizados, tem registado um progressivo aumento do número de ciclistas utilitários e de lazer, com evidentes benefícios para os indivíduos, para a sociedade e para o ambiente.


A bicicleta é um equipamento com baixo custo de aquisição e manutenção, ocupa pouco espaço, não exige grandes investimentos em infraestruturas e promove a democratização do espaço urbano e a inclusão social de todas as classes sociais e faixas etárias. A bicicleta enquanto meio de transporte constitui o modo de deslocação mais rápido, eficiente e ajustado nas deslocações em meio urbano até 3km, em particular nas horas de ponta. O seu uso tem contribuído para a redução de acidentes e engarrafamentos.
A perfeita combinação entre os transportes públicos e a bicicleta é outra vantagem que permite ganho de tempo considerável para os ciclistas nas curtas e médias distâncias. Além disso, as pessoas que se deslocam para o trabalho de bicicleta são mais bem-humoradas, tem uma atitude mais positiva no trabalho, faltam menos por motivos de saúde, tem menos atrasos e menos horas perdidas nos engarrafamentos e são mais produtivos como resultado de uma melhor forma física e boa saúde mental.

O impacto da bicicleta na saúde tem sido objeto de vários estudos que identificaram benefícios para a circulação e tónus muscular dos membros inferiores, redução da probabilidade de obesidade, das doenças do coração, da diabetes e de alguns tipos de cancro, diminuição do stresse, ansiedade e depressão.

A bicicleta é um meio de transporte amigo do ambiente. Não utiliza combustíveis fósseis, não emite poluentes como o monóxido de carbono, não aumenta o efeito estufa, não contribui para o aumento dos índices de problemas respiratórios e não polui as águas, nem provoca ruído ambiente.

O impacto económico positivo resultante da maior utilização da bicicleta em muitas cidades do mundo, tem-se traduzido na redução do consumo de combustíveis fósseis, na diminuição das despesas com a saúde, na diminuição dos gastos diretos e indiretos associados ao automóvel, no transporte para a escola e para o trabalho.

No último relatório da London School of Economics o sucesso económico do uso da bicicleta no Reino Unido foi quantificado em aproximadamente 4 biliões de euros e dados relativos ao cicloturismo, comprovam que os países amigos da bicicleta são também aqueles que mais turistas de bicicleta atraem, com a Alemanha e a França lideram a lista dos países do mundo que maior número de cicloturistas atraiem, com um retorno económico anual superior a 2000 milhões de euros.

  

Fatores que influenciam a utilização da bicicleta nas cidades

 As cidades onde existem políticas favoráveis à utilização da bicicleta, quer ao nível das infraestruturas, quer ao nível das medidas de acalmia do tráfego, quer através de programas de formação e educação, são as que tem maiores taxas de utilização da bicicleta.

 

 Políticas urbanas

Um planeamento urbano favorável ao uso da bicicleta deve considerar a bicicleta como meio de transporte, proporcionando boas condições de deslocação a toda a população no acesso a lojas, escolas, serviços públicos, equipamentos coletivos e empregos, garantindo a segurança dos ciclistas, integrando a bicicleta com os outros meios de transporte, adequando a legislação existente e eliminando as barreiras urbanísticas que dificultam a deslocação dos ciclistas

 

Uma análise das medidas de planeamento urbano adotadas pelas cidades que pretendem promover a bicicleta enquanto meio de transporte permitiu identificar os seguintes fatores determinantes:

- Existência de políticas de redução da capacidade disponível de estacionamento de carros no centro das cidades.

- Redução do número de faixas para a circulação automóvel e a criação de zonas restritivas aos veículos automóveis.

- Implementação de medidas ativas e passivas de acalmia do tráfego que forcem os carros a circularem mais devagar
- Existência de vias específicas para ciclistas, nomeadamente ciclovias ou faixas compartilhadas com transportes públicos


- Melhoria dos pavimentos e da iluminação das vias cicláveis.

- Existência de estacionamento seguro e de medidas que ajudem a reduzir o roubo de bicicletas.

- Planeamento do estacionamento automóvel nas ruas da cidade tendo em conta a segurança dos ciclistas

- Entidades empregadoras amigas dos ciclistas, que disponibilizam balneários e estacionamento.

- Integração com outros meios de transporte, com estacionamento junto às estações de transportes públicos.

- Possibilidade de transportar bicicletas nos autocarros, comboios ou metro.

 

 Existência de vias cicláveis

Existe uma forte correlação entre os níveis de utilização da bicicleta e a existência de ciclovias.

De acordo com as fichas técnicas editadas pelo governo francês os trajetos das ciclovias devem ser diretos, coerentes, confortáveis, atraentes e seguros.

- Deve garantir aos ciclistas um nível elevado de segurança quer em relação aos veículos motorizados, quer em relação ao pavimento, ás bermas e valetas.

- Deve estar adaptada a todos os ciclistas

- Deve procurar os itinerários mais diretos entre os bairros e o centro da cidade ou entre cidades

- Deve ter uma sinalização específica e homogénea em todo o território

- Deve ser objeto de manutenção periódica que permita uma utilização permanente e durante todo o ano

 Medidas de acalmia do trânsito
A segurança dos ciclistas não depende apenas da construção de infraestruturas. As cidades amigas da bicicleta tem complementado os investimentos em ciclovias e estacionamentos para bicicletas, com medidas de acalmia e redução do tráfego, sendo as mais comuns as seguintes:

- Redução do número de faixas rodoviárias

- Diminuição dos lugares de estacionamento automóvel no centro das cidades.

- Criação de zonas restritivas aos veículos automóveis



- Implementação de zonas de velocidade máxima 30km/h na maioria das ruas dos bairros residenciais e do centro da cidade.

- Sistemas de controlo e fiscalização da velocidade.

- Requalificação de faixas rodoviárias exclusivas para os automóveis em vias de trânsito partilhado.

- Requalificação de ruas em vias de sentido único para os carros e com dois sentidos para os ciclistas.

- Colocação de pavimento empedrado no centro das cidades para baixar a velocidade dos automóveis.

- Transformação de retas em trajetos sinuosos (chicanes).

- Sinalização nos cruzamentos com prioridade para os ciclistas.

- Sinalização de stop para ciclistas colocada alguns metros à frente da linha stop dos carros.

- Aproximação aos cruzamentos sem obstáculos que dificultem a visualização de todos os utilizadores da via pública.

- Barreiras para impedir a entrada de carros em zonas exclusivas para ciclistas e peões.

- Estreitamentos e lombas à entrada de zonas residenciais e escolas.

- Rotundas com pistas com prioridade para os ciclistas.

- Requalificação de cruzamentos em mini rotundas com lomba de calote esférica.

- Construção de lombas nas passadeiras.

- Semáforos com temporização diferente para ciclistas.

 

Bicicletas públicas e de aluguer

Os serviços de aluguer ou partilha de bicicletas tem crescido de popularidade por todo o mundo, pois permitem a um número importante de pessoas experimentar a bicicleta antes de passar à sua aquisição, sem correrem o risco de roubo e sem terem que enfrentar a dificuldade em encontrar estacionamento.

Em Barcelona, o sistema de partilha de bicicletas Bicing, criado com o objetivo de encorajar os residentes e os turistas a fazerem as pequenas viagens de bicicleta em vez do carro, conta atualmente com mais de 6000 bicicletas distribuídas por 420 estações. E na cidade de Nova Iorque, entre Manhattan e Brooklyn, existem mais de 6 mil bicicletas de aluguer, espalhadas por 333 estações.

 

Estacionamento para bicicletas na cidade

A ausência de estacionamento associada ao risco de furto são os principais fatores desmotivadores do uso da bicicleta.

 Nas cidades com políticas amigas da bicicleta tem-se assistido a um aumento progressivo da oferta de estacionamento para bicicletas nas zonas residenciais, nos locais de emprego, nas escolas e universidades, junto das lojas e serviços e nas zonas de interface com os transportes públicos. O número de estacionamentos cobertos e vigiados também tem aumentado, tal como a oferta privada de serviços de estacionamento, aluguer, reparação e balneários para ciclistas.

Algumas cidades, como é o caso de Dublin, obrigam os parques de estacionamento públicos a disponibilizar 15% de lugares para estacionamento de bicicletas.

 

 Incentivos e facilidades nos locais de trabalho e nas escolas

Atualmente muitas entidades empregadoras criam vários incentivos para desafiar os seus empregados a deslocarem-se de bicicleta para o trabalho, disponibilizando vestiários, chuveiros, estacionamentos e oficina. E oferecem outros incentivos como flexibilidade de horários, bonificação que se traduz em folgas e dias de férias, subsídios por quilómetros pedalados, comparticipação na aquisição da bicicleta.

Nos últimos anos, muitas cidades europeias com políticas favoráveis ao uso da bicicleta, têm implementado programas com o objetivo de ensinar as crianças a andar de bicicleta e a conhecer as regras de trânsito. Em algumas cidades, pais e professores organizam itinerários ao longo dos quais recolhem e acompanham grupos de estudantes no trajeto casa escola.

 

Integração com outros meios de transporte

A integração da bicicleta com outros meios de transportes e a facilidade em transportar a bicicleta nos transportes públicos tem sido um sucesso em várias cidades e é mais um fator incentivador à utilização da bicicleta junto dos cidadãos que moram longe do centro da cidade, mas a uma distância ciclável das estações.

Na Dinamarca é permitido levar as bicicletas nos comboios e no metro, em carruagens específicas. E em várias cidades da Alemanha é possível transportar a bicicleta em qualquer transporte e a qualquer hora do dia. Em várias cidades do Canada e Estados Unidos os autocarros tem suportes externos para o transporte de bicicletas e em França, um dos maiores destinos de cicloturismo do mundo, algumas carruagens dos comboios normais e de alta velocidade tem sido convertidas para poderem transportar bicicletas


 

 Mentalidades

O aumento da utilização da bicicleta enquanto meio de transporte, também é influenciado por questões culturais. A par de tantas outras medidas, há que mudar mentalidades de modo a alterar a imagem pública do ciclismo e a mudar comportamentos que limitam todas as potencialidades associadas ao uso da bicicleta enquanto modo de transporte.

A implementação de uma nova cultura em torno da bicicleta passa por um conjunto de iniciativas como passeios, seminários, workshops, exposições, livros, vídeos, folhetos educativos, e também por campanhas junto da população para que todos tomem conhecimento de que as bicicletas são uma realidade no trânsito e que deve haver mais respeito pelo ciclista e mais consciência sobre a sua vulnerabilidade.

 

Conclusão

Nas cidades onde nos últimos anos foram implementadas medidas efetivas de incentivo à utilização da bicicleta, diminuiu a poluição e o ruído, há menos engarrafamentos e são evidentes as melhorias na saúde e na qualidade de vida dos cidadãos.

 

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