domingo, 30 de julho de 2023

TRANSRAIA Travessia das Beiras e do Alto Alentejo em bicicleta - Vilar Formoso – Elvas (493 km)

INTRODUÇÃO Depois de em 2017 ter completado a volta à Península Ibérica em bicicleta, o desafio seguinte foi pedalar sempre próximo da fronteira entre Portugal e Espanha.
Em 2019 pedalei entre Elvas e o Alqueva. Em 2021 atravessei o Minho e Gerês. Em 2022 percorri Trás-os-Montes e Alto Douro. Na primavera de 2023 pedalei ao longo do rio Guadiana até Vila Real de Santo António. E no verão de 2023 concluí este desafio pedalando durante 5 dias pela zona raiana das Beiras e Alto Alentejo, num total de 493km.
ETAPAS 1º dia - Vilar Formoso-Malcata-- 67km 2º dia – Malcata- Segura ------- 116km 3º dia – Segura-Montalvão -------102km 4º dia – Montalvão-Alegrete -----101km 5º dia – Alegrete -Elvas ------- 106km TOTAL ----------------------- 493 km
1ª etapa - Vilar Formoso-Malcata (67km; altim.962m)
Durante a manhã viajei no comboio intercidades entre Santarém (9h04) e Guarda (bilhete com bicicleta). Como a linha da Beira Alta está em obras, a continuação da viagem para Vilar Formoso teve que ser feita num autocarro ao serviço da CP, com a bicicleta a ser transportada na bagageira. Depois de almoçar em Vilar Formoso, saí a pedalar eram 14h45.
Os primeiros quilómetros foram sempre junto à fronteira, por estradas de bom piso e pouco trânsito. Fui atravessando as aldeias fronteiriças de Nave do Haver, Aldeia da Ponte, Forcalhos, Aldeia do Bispo, Fóios e Vale Espinho. A “capeia arraiana” e o “forcão” são o mais importante património cultural desta região.
NOTA: O “forcão” é um engenho de forma triangular construído em madeira e usado na “capeia arraiana” - tourada típica da região de Ribacôa.
Tencionava passar pelo Sabugal, mas como a distância era maior, optei por atravessar a Serra da Malcata e foi com o sol quase a pôr-se que cheguei à aldeia da Malcata. Na ausência de restaurantes abertos, comprei comida numa mercearia e acampei no parque de autocaravanas à saída da aldeia.
2ª etapa – Malcata- Segura (116km; altim. 2013m)
Acordei cedo, desmontei acampamento e tomei o pequeno almoço. Iniciei a viagem por volta das 8h30 por um caminho muito bonito, pelo meio da floresta. Lá no alto passei pela igreja de Nª Sr.ª do Pilar e depois foi uma bela descida com vistas espetaculares para a barragem da Meimoa.
Uns quilómetros depois passei pela povoação da Meimoa e continuei até Penamacor pelo vale da “cova da beira”, com a Serra da Estrela como pano de fundo. Em Penamacor visitei o centro histórico e antecipando a ausência de supermercados pelo caminho, comprei mantimentos no supermercado Auchan.
Continuei por caminhos tranquilos, passando pelas aldeias de Aranhas e Salvador. Ao fundo já se avistava o imponente penhasco de Monsanto. Virei à esquerda em direção a Penha Garcia, onde fiz nova paragem para comer e descansar.
Continuei em direção a Monfortinho, e sempre perto da fonteira, passei por Salvaterra do Extremo. Desci até à ponde que faz fronteira, na esperança de dar um mergulho nas águas do rio Erges, mas a cor esverdeada das águas, fez-me mudar de ideias. Voltei a subir e fui ao miradouro donde se avista o belo castelo espanhol de Peñafiel, no lado de lá do rio Erges.
De volta à estrada percorri os restantes 10 quilómetros até à aldeia de Segura, onde comprei bebidas, antes de descer até à margem do rio Erges, próximo do geosítio conhecido por “canhão do Erges” onde montei acampamento.
3ª etapa – Segura-Montalvão (102km; altim. 1870m)
Depois de uma noite tranquila à beira do rio Erges, subi de novo até à aldeia. Enchi os cantis com água e às 8h20 já estava a pedalar por uma estrada estreita e tranquila…e durante cerca de 2 horas apenas passaram por mim dois carros.
E foi por estradas onduladas que cheguei ao Rosmaninhal, aldeia antiga e muito isolada, onde aproveitei para comprar fruta e uns bolos de mel. Continuei pela estrada que passa no Couto das Correias e depois de uma descida vertiginosa e de uma subida terrível, cheguei a Cegonhas, onde fiz uma paragem para recuperar o fôlego e comer um pêssego.
Entre Cegonhas e Monforte da Beira a estrada é muito acidentada, alternando vales com cumeadas. Fiz nova paragem para beber uma coca-cola e comer outro pêssego. Mais à frente, por distração não reparei no desvio para Malpica do Tejo e quando dei por isso percebi que teria que voltar para trás e fazer mais 13 quilómetros. Optei por continuar em frente até Lentiscais, onde passei por volta das 14 horas. Como não havia nenhum café aberto, refresquei-me no chafariz, enchi os cantis e descansei cerca de 1 hora para fugir à hora do calor.
De volta à estrada, passei pela aldeia de Alfrívida, onde voltei a encher os cantis numa fonte. Continuei até Perais, aldeia com belas vistas sobre o rio Tejo.
Um pouco à frente, fiz uma paragem junto à ponte do rio Pônsul, para dar um mergulho naquelas águas refrescantes. Ao longe já se avistava Vila Velha de Ródão. Desci até ao cais, onde dei mais um mergulho antes de comer um hamburger no bar da associação desportiva. Como ainda havia duas horas de sol, decidi continuar mais uns quilómetros. Atravessei a ponte sobre o rio Tejo, de onde se tem uma vista privilegiada para o magnífico monumento natural conhecido por Portas de Ródão e continuei até à aldeia de Pé da Serra, onde montei a tenda num local tranquilo.
4ª etapa – Montalvão-Alegrete (101km; altim. 2145m)
Acordei cedo e às 7h40 já estava a pedalar. A manhã estava fria e ventosa. Passei por Salavessa e uns quilómetros depois, em Montalvão, parei para tomar o pequeno almoço no primeiro café que encontrei.
Continuei até à aldeia de Póvoa e Meadas, que recebeu foral do rei D. Manuel I há mais de 500 anos. Mais à frente, na Beirã visitei a bela, mas desativada estação ferroviária do antigo Ramal de Cáceres, que fazia a ligação de Portugal com Espanha, por onde passou até 2012 o “Lusitânia Comboio Hotel”.
Sempre próximo da fronteira, continuei por uma estrada muito bonita e tranquila, junto à qual existem vários menires e antas. Próximo da aldeia raiana de Galegos, o calor, as subidas e o vento de frente tornaram difícil a progressão. Continuei até à aldeia de Portagem - que foi posto fronteiriço até há uns séculos atrás - onde fiz uma paragem para almoçar e descansar na praia fluvial do rio Sever.
De volta à estrada, prossegui pela N236 até ao desvio para a barragem da Apartadura e durante muitos quilómetros pedalei por uma bela estrada que percorre um vale encaixado entre as montanhas da Serra de S. Mamede.
Antes da subida final, passei pelas povoações de S. Julião e Rabaça. E para acabar a jornada tive que subir até à bonita aldeia de Alegrete (cerca de 10km, com declives médios de 8%).
5ª etapa – Alegrete -Elvas (106km; altim. 1598m)
Eram cerca de 9h00 quando iniciei a quinta e última etapa deste desafio. Passei pelas aldeias de Vale de Cavalos e Mosteiros e continuei até à bela vila alentejana de Arronches, que visitei e onde fiz uma paragem para comer. A partir daqui fiz uma opção arriscada.
Virei à esquerda para as aldeias de Esperança e Hortas de Baixo, e continuei até à barragem de Abrilongo, por uma estrada sem saída. Tinha duas opções: ou voltava 15 km para trás até Arronches ou arriscava atalhar pelo meio dos terrenos agrícolas. Escolhi a segunda opção e durante alguns quilómetros, fui abrindo e fechando portões, até regressar à N371 próximo da aldeia de Degolados, onde parei para almoçar.
De regresso à estrada, continuei em direção à fronteira passando pelo marco fronteiriço 717 e pela aldeia de Ouguela com o seu imponente castelo. A paragem seguinte foi a bela vila raiana de Campo Maior, onde comprei comida e descansei.
Como já conhecia a estrada fronteiriça até Elvas, optei por descobrir a barragem do Caia, onde dei um mergulho, antes continuar até Santa Eulália, onde apanhei a estrada para Elvas e assim terminar esta aventura junto ao belo aqueduto desta monumental cidade. O regresso a casa fez-se através da boleia de uma pessoa amiga que foi trabalhar para aquela zona.
Balanço: Com esta etapa concluí o desafio de percorrer de bicicleta toda a região fronteiriça entre Portugal e Espanha. Correu tudo bem, sem avarias nem lesões. Apanhei algum calor, mas bem abaixo do que é habitual nestas regiões. Desta vez a opção foi viajar a solo e em autonomia, sem nada marcado. As dormidas foram sempre em “campismo selvagem” e apenas duas refeições foram em restaurante. Viajar pela região raiana, dá-nos o privilégio de pedalar por territórios bonitos e pouco alterados pelo homem,atravessar estradas tranquilas, visitar pacatas aldeias e conhecer pessoas únicas. Mas o isolamento destas regiões pode surpreender os menos atentos. A oferta de alojamento e restauração é baixa. Há regiões onde pedalamos durante muitos quilómetros sem cruzar aldeias e sem ver ninguém … Algumas aldeias não tem qualquer oferta de locais para comer e a hotelaria.

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