sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Heinz Stucke - o cicloturista mais viajado do mundo


Heinz Stücke: 50 anos a viajar de bicicleta pelos cinco continentes ...mais de 600 mil quilómetros pedalados


O alemão Heinz Stücke, que este ano comemorou 72 anos de idade, é o cicloturista mais viajado do mundo. Há 50 anos que pedala pelos 5 continentes, tendo já visitado 257 países ou territórios e percorrendo aproximadamente 600 mil quilómetros - o que equivale a 15 voltas ao redor da Terra.

 
Foi precisamente no dia 4 de novembro de 1962, que o operário metalúrgico Heinz Stücke, então com 22 anos, deixou sua cidade natal, Hövelhof, na Alemanha, montado numa bicicleta de três velocidade, para uma viagem qua ainda não terminou. O seu único desejo era deixar para trás o trabalho monótono na fábrica e as pessoas mesquinhas da sua cidade. 


Quando decidiu que a sua vida iria decorrer sobre duas rodas, Heinz Stücke procurou uma bicicleta robusta e de fácil manutenção e uma empresa de bicicletas alemã deu-lhe uma bicicleta “Tripad” de roda 26, com 3 velocidades, travões incorporados no pedal e pesando 25 kg. Stücke reforçou os raios, equipou-a com alforges e foi a sua companheira durante 44 anos. Há uns anos atrás, para aliviar as dores nos ombros e pescoço, soldou um segundo guiador na bicicleta.

 
Transportava regularmente cerca de 50 kg de equipamento. Além da tenda, saco cama, roupas e ferramentas, caixas de slides, etc., também levava folhetos e revistas, que ia vendendo. Quando lhe diziam que era impossível pedalar com tanto peso, respondia que “por vezes subia muito devagar, mas que não era seu objetivo bater records de velocidade”.

No quadro da bicicleta colocou um mapa mundo, onde foi assinalando os locais visitados e as rotas realizadas. Na parte de trás da bicicleta trazia sempre um letreiro com a frase “pedalando á volta do mundo”.

 
Durante muitos anos, os aeroportos não lhe cobravam nada pelo transporte da bicicleta, mas em junho de 2004, quando no aeroporto de Londres lhe pediram 500 libras para transportar a bicicleta de avião, percebeu que tinha que encontrar uma outra solução. Foi nessa altura que trocou a sua velha companheira, por uma bicicleta de 7 velocidades, dobrável e fácil de arrumar em pequenos aviões ou barcos.

 
Pedalava diariamente entre 80 km e 120 km, mas nalguns países da América Latina e Ásia houve dias em que não conseguiu ir além dos 30-60km diários. O seu “record pessoal” foi de 300km em 12 horas, no deserto da Síria, empurrado por um vento fortíssimo.
 
Relativamente a tendas não acertou logo à primeira. Começou por usar uma tenda de campanha, que seria destruída por uma tempestade na Colômbia. Depois comprou uma tenda de nylon, mas por ser baixa e pouco respirável, acordava sempre molhado pela condensação. Ofereceu-a e comprou uma maior que acabaria por arder enquanto dormia com uma vela acesa, até que finalmente adquiriu uma tenda de nylon com duplo teto.

 
Durante estes 50 anos de viagens, Heinz Stücke viveu experiências fantásticas, muitas peripécias e alguns acidentes. A sua velha bicicleta foi roubada por 6 vezes e sempre recuperada. Partiu o quadro da bicicleta por 16 vezes. Sofreu quatro acidentes com carros e foi atropelado por um camião no Chile. No Haiti foi perseguido por uma multidão enfurecida. No Egito foi espancado por soldados tendo ficado inconsciente, nos Camarões foi preso acusado de difamar o estado, nos Estados Unidos, durante uma boleia foi roubado e abandonado por um automobilista numa estação de serviço. No Alasca, durante um inverno rigoroso, aceitou apanhar uma boleia de um carro, que se despistaria, tendo ido parar dentro de um rio de água gelada. Na Indonésia sofreu um grave ataque de disenteria. No Zimbabué foi baleado no pé por rebeldes. Na América Central sofreu queimaduras através de cinzas vulcânicas. Em Moçambique foi atacado por um enxame de abelhas quando tomava banho num rio…

Quando lhe perguntam como financia as suas viagens, responde que graças à bicicleta e à boa vontade das pessoas, sempre encontrou ajuda. Começou por viver de donativos. Quando passou pela Etiópia foi recebido pelo imperador Haile Selassie que lhe deu um donativo de 500 dólares. Mais tarde começou a escrever artigos para jornais e revistas e a vender fotos. Em 1978 uma empresa de fotografia inglesa patrocinou-o com cerca de 5000 dólares por ano, o que dava para ele viver nos países do terceiro mundo. Mais recentemente, em 2009, uma empresa inglesa de bicicletas deu-lhe uma bicicleta desmontável e patrocinou-o com o objetivo de o ajudar a visitar todos os países do mundo e assim entrar no livro Guiness World Record.

Este ano, durante o seu 72º aniversário, Heinz Stücke estava pedalando pelo continente africano, próximo de África do Sul. Talvez seja a última vez que sopra as velas na estrada, pois pretende fazer uma paragem para organizar os seus diários e fotos e preparar a publicação de um livro.

Entretanto, aguarda o reconhecimento do livro Guiness World Record como o ciclista mais viajado de sempre e o único que pedalou por todos os países do mundo.


Vítor Milheiro

1 comentário:

Luis Eme disse...

fizeste bem explorar esta vertente histórica e biográfica no teu blogue, Vitor.

abraço

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