A Estrada Nacional
- N 2
2ª parte – (Abrantes- Faro – 334km
Introdução
A N2 foi um dos grandes projetos do Estado Novo e
teve como objetivo criar uma estrada que ligasse o país de Chaves até Faro, num percurso que seguisse a espinha dorsal do país, ao longo de 738km.
A N2 é a estrada nacional
mais extensa de Portugal e a única que o atravessa de lés-a- lés. Passa por 36 municípios,
cruza o interior de povoações e liga paisagens tão diferentes como montanhas
da Trás-os-Montes, os socalcos do Douro, os vinhedos do Dão, as planícies alentejanas ou
as praias algarvias. A N2 é a
terceira estrada mais extensa do mundo, a seguir à rota 66 dos Estados Unidos
da América (EUA) e à rota 40 da Argentina.
A N2 é uma manta de retalhos. Cruza alguns dos mais importantes rios de
Portugal e Ibéricos, nomeadamente Mondego, Zêzere, Tejo, Douro, Paiva, Corgo,
Dão, Tâmega, Ceira. Várias serras também fazem parte deste itinerário:
Caldeirão (Algarve), Lousã (Coimbra), Montemuro (Viseu) e Marão (Vila Real). E transpõe algumas
barragens: Montargil (Sôr), Cabril (Zêzere) e Aguieira (Mondego).
Por razões logísticas
e atendendo a que pedalei a solo e em autonomia, dividi este desafio em 2 grandes
etapas:
1 - Em Agosto viajei de comboio até Abrantes e durante 5 dias pedalei os 406km que separam Abrantes de Chaves ... e regressei a casa de bicicleta pela linha do Corgo, margens do Douro e costa de prata.
1 - Em Agosto viajei de comboio até Abrantes e durante 5 dias pedalei os 406km que separam Abrantes de Chaves ... e regressei a casa de bicicleta pela linha do Corgo, margens do Douro e costa de prata.
2 - No passado fim de semana, apanhei de novo o
comboio até Abrantes e pedalei em 3 etapas os restantes 334km até Faro.
Etapa 1– (sex, 20 set)
Abrantes – Montemor o Novo (114km)
Depois de viajar até
Abrantes no comboio Intercidades das 9h04, comecei a pedalar eram 10h00. À
saída de Rossio ao Sul do Tejo cruzei o marco dos 407km.
A estrada seguia por
um ondulado suave rodeado de bosque de pinheiro e sobreiro.
Bemposta foi a primeira
povoação por onde passei, ao fim de 16 km. Fiz uma paragem no jardim para comer
uma batata-doce assada.
Ao km33 passei por
Ponte de Sôr. Depois de passar ao lado do Campus Aeronáutico de Ponte de Sôr, a
N2 segue durante vários quilómetros paralela à albufeira de Montargil que me impressionou pelos níveis de água tão baixos.
Na povoação de Montargil
parei para almoçar uma caldeirada de bacalhau.
Regressado à estrada,
atravessei o paredão da barragem e continuei em direção a Mora, onde fiz um
pequeno desvio para atravessar o interior da vila e onde me cruzei com um casal de
ciclistas ingleses com quem estive um pouco à conversa.
A partir de Mora e
até Alcáçovas, a N2 passa a R2, porque foi desclassificado de estrada nacional
para estrada regional.
Na pitoresca aldeia
alentejana de Brotas visitei a igreja de Nossa Senhora de Brotas e enchi o
cantil com a água que “brotava” da fonte da praça da igreja.
O quilómetro 500 foi
ultrapassado na aldeia de Ciborro, onde parei para lanchar.
Eram quase 18h00
quando cheguei a Montemor-o-Novo com 114km pedalados. Continuei mais 5km até ao
local de pernoita, no Hotel da Amieira. Depois de um banho peguei de novo na
bicicleta e voltei ao centro da cidade para jantar no “Rei das Bifanas”.
Montemor o Novo - Castro Verde (125km)
Depois de um bom pequeno-almoço,
atravessei a cidade de Montemor e regressei à N2.
Nos primeiros
quilómetros, o percurso foi bastante ondulado com subidas e descidas
constantes. Na vila de Santiago de Escoural vale a pena fazer um pequeno desvio
para visitar são a gruta de Escoural.
Em Casa Branca, começou
a chover, pelo que me abriguei durante alguns minutos dentro da estação dos
comboios. Foi aqui que cruzei o marco do Km538, que indicava que faltavam 200km para
Faro.
A chuva parou e continuei mais 13 quilómetros
até à bela e cheia de história vila alentejana de Alcáçovas, onde almocei.
Por entre o casario branco emoldurado com
cores garridas, destaco a Igreja
do Salvador, a Praça do Paço Real e a Capela das Conchas.
Até ao Torrão a estrada é uma enorme reta envolvida
por extensas planícies salpicadas de sobreiros. O trânsito automóvel aumentou,
porque a estrada voltou a ter classificação nacional.
A caminho de Ferreira do Alentejo, as extensas
retas raramente são planas, mas antes um carrocel de suaves subidas e descidas.
Começou a chover uns quilómetros antes de passar no
marco do km600, próximo da vila mineira de Aljustrel - uma
das mais antigas povoações de Portugal, antiga cidade romana Vipasca, que foi conquistada
aos árabes em 1234 pelo rei D. Sancho II – e ainda faltavam 23km para o final da etapa em Castro Verde. Nos
primeiros quilómetros pedalei ao lado da antiga linha que transportava o
minério das minas de Aljustrel.
Entretanto a chuva intensificou-se e a longa reta com pavimento em mau estado, demorou quase 2 horas a percorrer. Sem
luz à frente, para minha segurança encostava-me à berma sempre que me cruzava com
carros.
Já passava das 20h00 quando, molhado e com
frio, cheguei ao Hotel A Esteva em Castro Verde. Depois de um reconfortante
banho quente, fui jantar ao “Castro”.
Etapa 3 - (dom, 22 set)
Castro Verde – Faro
(96km)
Comecei a pedalar eram 10h00 depois de mais
um "generoso" pequeno-almoço no Hotel A Esteva.
À saída de Castro Verde encontrei marco do km642.
Os primeiros quilómetros foram muito rolantes
e permitiram que chegasse a Almodôver em menos de 1 hora.
A partir daqui e até
S. Brás de
Alportel começa o troço da N2 classificado como Rota Património. Este troço, que atravessa a serra do Caldeirão, foi construído nos anos
trinta. São cerca de 60km (e mais de 300 curvas), num belo e tranquilo percurso
que foi a primeira estrada nacional a ser classificada como “Estrada Património de Portugal”. O
pouco declive das subidas, tornam esta estrada muito agradável para os
ciclistas.
Atravessada a serra cheguei a S. Brás de Alportel, passei por Estói e continuei a descer até
regressar ao nível do mar. Cheguei a Faro ao
marco do Km738 por volta das 17h00.
Depois de uma volta pela cidade, em que visitei a zona antiga, fui
lanchar uma pizza antes de apanhar o comboio intercidades das 18h14 que me trouxe de
regresso a Lisboa, onde apanhei o comboio Regional até à cidade de Santarém, onde tinha
deixado o carro.
Balanço Final
Foi mais uma espetacular viagem de bicicleta, ao longo daquela que além de ser a mais
longa, é também uma das mais belas estradas de Portugal, uma verdadeira tela de
paisagens e localidades ricas em história e cultura.
A N2 é uma rota que qualquer cicloturista deve fazer um dia.
Podemos percorrê-la usando diferentes meios de transporte (automóvel, moto ou bicicleta),
mas a bicicleta continua a ser para mim, a melhor forma de usufruir ao máximo desta bela estrada,
sem janelas a separar-nos do exterior. De bicicleta viajamos mais devagar e
assim temos mais tempo para apreciar as paisagens, sentir os cheiros da
natureza, visitar os pontos de interesse das povoações e experimentar as
iguarias gastronómicas de cada região.
2 comentários:
E esta?
Estava a pensar que tinhas reservado a "2ª parte" para 2020.
Não deixas mesmo para amanhã o que podes fazer hoje. :)
abraço
Muito bem, assim é que é, sem pressas nesta ou noutra qualquer estrada por aí.
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