1 - Introdução
Em 2012 iniciámos o projeto
“Volta à Península Ibérica em bicicleta”, pedalando durante 8 dias pela costa
norte de Espanha desde Irun até Santiago de Compostela, num total de 951kms.
Como grande parte deste percurso coincidia com o caminho de Santiago do Norte, decidimos
viajar como peregrinos e pernoitar nos albergues e em Ribadeo desviámos para o
interior em direção a Santiago de Compostela.
Em 2013, continuámos o
projeto recomeçando em Ribadeo e durante 9 dias pedalámos pela costa da Galiza
até à fronteira com Portugal (760kms) e continuámos pela costa portuguesa
até Aveiro, onde apanhámos o comboio de regresso a casa, o que deu um total de
955kms.Durante os primeiros meses de 2014 pedalámos pela costa portuguesa e na primeira semana de Agosto de 2014 continuámos este projeto pela costa da Andaluzia, de Tavira até Almeria, durante 7 dias, num total de 791 km.
2 – Andaluzia
A Andaluzia (em espanhol: Andalucía) é uma comunidade
autónoma de Espanha localizada na parte meridional do país e a sua capital é a
cidade de Sevilha. O seu nome provém de Al-Andalus,
nome que os muçulmanos davam à Península Ibérica no século VIII. É uma terra de cultura, história, festas, natureza e boa
comida, com monumentos impressionantes e um ambiente natural cheio de
contrastes, celebrações populares genuínas e uma gastronomia
3 - As etapas
A costa da
Andaluzia tem mais de 900 quilómetros, porém, por razões logísticas
começámos em Tavira, onde deixámos o carro e terminámos em Almeria, para poder
regressar de comboio.
Etapa
1 - Tavira – Mazágon (126km)
Viajámos para o
Algarve de carro na sexta feira à noite, dia 1 de Agosto e dormimos no sótão da
casa de uns amigos em Tavira.
No sábado acordámos
cedo, preparámos os alforges, tomámos o pequeno almoço numa pastelaria e iniciámos
a viagem por volta das 8h30 com a primeira foto sobre a ponte da ria de Tavira.
O tempo estava
fresco e com nuvens e apanhámos alguns pingos de chuva durante os primeiros
quilómetros. Seguimos pela N 125, passando por Manta Rota, Altura, Monte Gordo.
Em Vila Real de Santo António, depois de 23 km pedalados, atravessámos o rio
Guadiana de ferry e eram 11 horas quando chegámos a Ayamonte, onde começou a viagem pela Andaluzia. Seguimos em direção
a Huelva, passando por muitos laranjais muito bem tratados. Após 10km virámos
em direção a Isla Cristina, onde fizemos
uma paragem para comprar comida e almoçar em frente da ria.
Continuámos junto ao
mar, pela praia de Isla Antilha, com
uma bela e original igreja e muitas vivendas em cima da praia. Entretanto a
meteorologia melhorou, o sol apareceu, mas a temperatura continuava amena e o
vento favorável.
Atravessámos Cartaya, onde merece destaque o seu
castelo, e continuámos por uma estrada ao lado das lagoas de El Portil com ótima vistas para as belas
praias.
Entretanto virámos
em direção a Huelva e seguimos pela espetacular via verde que segue sempre
próximo da ria. Mais à frente passámos por uma lagoa com uma espetacular
tonalidade cor de rosa, a fazer lembrar o famoso Lac Rose, onde terminava o rallye
Paris-Dakar.
Cruzámo-nos com
muita gente a andar a pé e de bicicleta. Depois de atravessar a ponte de
Huelva, virámos de novo em direção à costa sempre pela espetacular via verde.
À entrada do porto
de Huelva passámos junto do monumento em homenagem a Cristóvão Colombo,
oferecido pelos Estados Unidos ao povo espanhol. Continuámos pela zona
portuária, ao lado de refinarias e depósitos de carvão, e o primeiro dia
terminou no camping de Mazágon, muito
bem localizado em frente do mar.
Depois de montar as
tendas e de tomar um banho, jantámos no restaurante do parque e fomos para a
cama por volta da meia-noite.
2º dia -
Mazágon – Puerto de Santa Maria (110km)
Acordámos por volta
das 8h00 e depois de tudo preparado e de tomado o pequeno-almoço, começámos a
pedalar por volta das 9h30, numa ciclovia muito tranquila. Era meio-dia e meio
quando passámos por Matalascãnas,
onde fizemos uma paragem para dar um mergulho e para comer um gelado. Estava sol,
mas a temperatura amena o que era ótimo para pedalar.
A partir daqui
haviam duas opções:
- pelo interior contornando
o Parque Nacional de Doñana, (um território com mais de 100.000
hectares de área protegida, considerada uma das zonas mais valiosas do
continente europeu) e pedalar cerca de 150km.
- ou aproveitar a maré
baixa e pedalar cerca de 30km pela praia e atravessar de ferry o rio Guadalquivir para a cidade de Sanlúcar de Barrameda.
Optámos por ir pela
praia e acabou por ser uma experiência espetacular. Foram cerca de 4 horas a
pedalar (e com a bicicleta à mão!) por praias desertas. Depois de tirarmos
algum ar aos pneus tornou-se bastante mais fácil pedalar na areia e as paragens
foram menos frequentes. Apesar de estarmos com sede e com fome, pois só tínhamos
almoçado uma melancia, não podíamos parar pois se a maré subisse tornar-se-ia
impossível pedalar e iríamos demorar muito mais tempo.
Na parte final fomos
abordados pela Guarda Civil espanhola, que nos obrigou a uma paragem de cerca
de 20 minutos. Pediram-nos a identificação e averiguaram o nosso cadastro.
A travessia para Sanlúcar de Barrameda na desembocadura
do rio Guadalquivir foi rápida mas o
preço um pouco exagerado…10€ para uma travessia com cerca de 200m. Na outra
margem parámos para descansar, tomar um banho na praia e lanchar pão com
presunto e melão.
Como já passava das
18h00 e o objetivo era chegar a Puerto de
Santa Maria, optámos por seguir pelo caminho mais curto e por isso não
passámos pelas praias de Chipiona e Rota. Foi uma etapa dura, pois o
pedalar na areia tinha-nos rebentado com as pernas, mas o vento pelas costas
foi uma preciosa ajuda.
Eram cerca de 21h00
quando chegámos ao camping, mesmo em frente da praia. Depois de montar as
tendas e tomar um banho fomos a pé até ao centro de Puerto de Santa Maria onde comemos um delicioso sortido de marisco
e umas “cañas”.
Foi uma etapa dura, pela
sua extensão (110km), mas principalmente pelo pedalar na areia, pelo que quando
caímos na cama adormecemos quase de imediato.
3º dia – Puerto
Santa Maria – Zahara de los Atunes (99km)
Eram cerca de 9h30
quando iniciámos a 3ª etapa. Tínhamos duas alternativas para chegar a Cádis: por terra ou por mar. Optámos
pela travessia em catamaran que nos levou diretamente ao centro desta bela
cidade.
Pedalámos pelo
centro histórico, visitámos a catedral e a fortaleza, passámos pelas praias e à
saída comprámos comida e almoçámos à sombra num jardim. Passava das 14horas
quando atravessámos a língua de areia de 7kms que nos leva a San Fernando e foi
aqui que tivemos o primeiro furo da viagem.
A seguir e para chegar a Chiclana de la Frontera tivemos que pedalar na ponte da autovia, a única hipótese de atravessar o rio.
Um pouco depois, quando
estávamos a 10km de Conil de la Frontera,
saímos da autoestrada e entrámos num pinhal para “aliviar a tripa”, quando mais
uma vez fomos abordados pela Guarda Civil que de novo nos pediu a identificação
e nos alertou que aquela era um zona perigosa de droga e prostituição.
Depois de Conil de la Frontera, passámos perto do
farol de Trafalgar, e depois tivemos
que enfrentar uma enorme subida, e quando olhámos para trás desfrutámos de uma
espetacular vista para o farol.
No final da subida
parámos num parque de lazer para lanchar e depois foi descer até Barbate onde passámos pelas 19h30.
Continuámos em
direção a Zahara de los Atunes, numa
estrada magnífica, sempre à beira mar, com o vento a ajudar. Passámos por
alguns bunkers defensivos do tempo da
guerra.
Depois de instalados
no camping de Zahara de los Atunes, fomos
jantar ao centro da povoação para experimentar a especialidade da região o atum
vermelho – uma delícia! Fomos dormir por volta das 23h30.
4ºdia – Zahara de los Atunes –
Manilva (106 km)
Iniciámos esta jornada por volta das 10h00 da manhã e tivémos
que nos afastar cerca de 10km para o interior da costa para apanhar a estrada N
340 para Tarifa. Passámos perto das
ruínas romanas de Baelo Claudia,
junto à praia de Bolónia, mas como
era muito a subir, optámos por não ir lá.
Alguns quilómetros depois
passámos pelo centro da cidade boémia de Tarifa,
um dos locais na moda em Espanha, a capital europeia do Windsurf e do Kitesurf,
onde fizemos uma paragem para almoçar.
Estávamos a 18km de
Algeciras, mas foi preciso subir bastante e passar dois portos de montanha para
desfrutar de belas vistas para o estreito de Gibraltar …e Africa ali tão perto.
Entretanto iniciámos
a descida e é fantástica a primeira vista do rochedo de Gibraltar. A temperatura estava muito mais elevada em Algeciras, pelo que fomos obrigados
parar num jardim da cidade, beber um refresco e dormir uma sesta no jardim á
espera que a temperatura baixasse um pouco.
Regressámos à estrada
e durante alguns quilómetros não tivemos alternativa do que circular na autovia
para San Roque. A partir daqui
continuámos por uma estrada secundária que nos levou ao condomínio de luxo Sottogrande, repleto de grandes
vivendas, com enormes jardins. Quando chegámos à praia ficámos deslumbrados com
a marina – uma pequena Veneza, onde os canais permitem que os barcos atraquem à
porta das vivendas.
Eram 20h30 quando
chegámos ao camping de Manilva – o
mais luxuoso, mas também o mais caro, os três pagámos 56€.
Montámos as tendas e
ainda fomos tomar um banho no mar no momento em que o sol se estava a pôr. Foi
um mergulho rápido porque a água estava gelada. Jantámos num restaurante na
praia próximo do camping.
5º dia –Manilva
– Vale do Niza (132 km)
Antes de levantar o
acampamento assistimos a um espetacular nascer do sol no mar.
Depois fomos ao
supermercado comprar comida para o pequeno almoço e fomos comer junto à praia.
Iniciámos a viagem e
a primeira paragem foi em Estepona
onde fomos aos correios enviar postais para casa.Logo a seguir voltámos à movimentada autovia. Estávamos a 20km de Marbella e a 70 de Málaga.
Em Marbella circulámos por uma via verde de
terra compacta que se prolonga por vários quilómetros, com muitos restaurantes
junto às praias. Fizemos uma paragem para um mergulho e continuámos nesta ecovia.
Mais à frente fizemos
uma paragem para almoçar numa pizzaria junto à praia.Depois voltámos à stressante N-340 sempre com muito trânsito.
Próximo de Fuengirola optámos por ir mais perto do
mar para mais tranquilidade. Nesta região apanhámos nevoeiro próximo e a temperatura
ficou bem mais agradável para pedalar.
É bonita a aproximação
do casario branco de Fuengirola, cuja
praia é enorme com mais de 4 quilómetros.
Mais à frente outra
bela praia Benalmadena, com muito
turismo, belas praias e uma das belas marinas da Europa, onde os apartamentos se
ligam com a marina, entra-se de carro num lado e no outro estão os iates.
Uns quilómetros à
frente outra praia muito conhecida – Torremolinos – que nos tempos de estudante era
o principal destino das viagens de
finalistas.
Passámos por Málaga
uma cidade enorme que se estende por muitos quilómetros até chegar ao centro
onde visitámos o centro. Perguntámos por um camping e ficámos a saber que o
mais próximo ficava a mais de 20kms.
Já estava a
anoitecer pelo que tivemos que nos pôr à estrada. e pudemos desfrutar de um
belo pôr do sol, na praias de Málaga. Mais à frente ligámos as luzes e a viagem
acabou por ser agradável, pois já havia menos trânsito e o fresco da noite
tornou mais agradável com vistas bonitas sobre as cidades e praias iluminadas.
Neste dia fizemos 132km
e foi já noite dentro que chegámos ao parque de Vale de Niza.
6º dia – Vale
do Niza – Calahonda (97km)
Passámos na praia de
Ayamate e logo a seguir em Torre del Mar, onde parámos para o
pequeno almoço. A praia também é muito bonita e a ciclovia muito agradável
rodeada de palmeiras e com excelente piso para as bicicletas.
Depois passámos na
praia de Lagos, por uma estrada
bonita e tranquila.
Mais à frente
passámos por Nerja uma cidade muito
turística, fica numa colina e estende-se por ruelas até ao mar, onde uma das grandes
atrações é o miradouro Balcon da Europa,
mas como estava nevoeiro não fomos lá.
Continuamos pela
N 340 por uma região montanhosa e fartámo-nos
de subir e atravessar o Túnel de Cierro Gordo. Depois de uma
descida espetacular chegámos à praia de Herradura,
onde parámos para descansar e beber uma “monster”.
Continuámos e voltámos
a subir mais uma montanha e passámos o túnel de la Punta de la Mona e pudemos desfrutar de uma bela vista sobre Herradura. Descemos para a praia de Almuñecar com o castelo a encimar o casario
branco e fizemos uma paragem para almoçar.
Depois de mais
algumas subidas com vistas espetaculares, descemos até à praia de Salobreña e depois passámos ao largo de Motril. E foi a partir daqui que começámos
a apanhar estufas. Continuámos pela costa até Calahonda passando por Torrenueva
e Carchuna repleta de estufas que se
estendem até ao mar. Como o parque ficava em Carchuna tivemos que andar cerca de 3km para trás.
7 dia - Calahonda – Almeria 121km
Saímos do parque de
campismo eram 8h30, atravessámos Calahonda
e começámos logo a subir por uma bela estrada de montanha ao lado do mar com
vistas espetaculares e espetacular foi a chegada a Castell de Ferro com bonita vista para a praia e para as muitas
estufas pela encosta acima.
Depois de passar
esta praia tranquila voltámos a subir por mais uma espetacular estrada
sobranceira ao mar. Em La Rijana fizemos
uma paragem para tomar o pequeno almoço e depois descemos para Castillo de Baños e parámos em La Mamola.
Uns quilómetros à
frente outra paragem na pequena e tranquila praia de Lance de la Virgen para mais um banho no mar. Entretanto chegámos à
cidade de Adra, onde almoçamos e
dormimos uma sesta.
Esta etapa está a
ser um dos dias mais bonitos da viagem, por estradas com pouco movimento e
sempre junto ao mar com paisagens magníficas.
Atravessamos Balermo, e continuamos por um extenso areal
com praias de um lado e estufas do outro.
A partir de Balermo são vários quilómetros ao lado
das estufas até à muito turística cidade de Almerimar, com aldeamentos, uma marina muito interessante, campos
de golfe, etc. Tivemos que voltar um pouco atrás para apanhar a estrada até Roquetas del Mar onde parámos para
lanchar e remendar novo furo.
Continuámos no
passeio marítimo da bela praia e tomámos mais um banho com a água a uma
temperatura ótima.
Logo a seguir a
enorme cidade de Aguadulce com uma
praia e porto de pesca.
Mas para chegar a Almeria faltava percorrer mais uma
espetacular estrada com falésias íngremes de um lado e o mar do outro.
Imponente e espetacular, com falésias que caiam a pique sobre o mar.
Nesta altura o sol estava
a pôr-se por detrás de Aguadulce e as
cores do céu eram espetaculares.
O dia foi escurecendo
e ligámos as luzes antes de passar 2 túneis perto de Almeria.
Chegámos a Almeria de noite. Passava das 21h00 e o primeiro objetivo foi procurar a estação dos comboios para comprar bilhetes para conseguir regressar na madrugada seguinte. Por sorte conseguimos 3 bilhetes para as bicicletas (o limite máximo de bicicletas por comboio) para o comboio das 6h15. Como o camping ficava longe, chegámos à conclusão que não valia a pena o trabalho a montar e desmontar acampamento para dormir apenas 4 ou 5 horas.
A ideia inicial era tomar um banho na praia, mas como já era tarde,
tomámos um banho à gato na casa de banho da estação jantámos um McDonalds e fomos descobrir a cidade,
visitámos a catedral e o castelo E depois ficámos na avenida das Ramblas à
conversa e a ver o pessoal que vinha dos bares… até chegar a hora de ir apanhar
o comboio.
Regressámos de
comboio até Sevilha (6h de viagem com paisagens muito bonitas). Em Sevilha tivemos
que esperar algumas horas antes de apanhar o comboio para Huelva. Enquanto
esperámos pelo comboio houve tempo para um passeio pela zona histórica.
E eram 19h quando os
nossos amigos de Tavira nos foram buscar a Huelva…
Balanço
Foi uma
semana muito bem passada, em ritmo tranquilo, quase sempre próximo do mar. Passámos
por belas praias com águas limpas e o mar
sempre flat. Quase sempre com excelentes ciclovias junto às praias.
Andámos quase
sempre por estrada e algumas vezes tivemos que circular nas autovias do Mediterrâneo, por ser a única
estrada existente…mas era bastante stressante!
Acampámos
sempre em parques de campismo junto ao mar e quase todos os dias terminaram com
um mergulho no mar junto ao camping.
As bicicletas
portaram-se bem… apenas 2 furos e um problema num desviador.
Quanto aos
meus companheiros de viagem mais uma vez foram uma excelente companhia. Tomámos
empre as decisões de forma consensual e reinou sempre a boa disposição e o companheirismo
Próximas etapas
O projeto
volta à península Ibérica em bicicleta irá continuar no próximo ano e o
objetivo será pedalar por toda a costa leste, desde Almeria, até chegar aos Pirinéus
passando por Cartagena, Alicante, Valência, Terragona, Barcelona… num total de
cerca de 1100km.
Vítor Milheiro
1 comentário:
mais uma grande reportagem, a fazer sentir inveja pelas paisagens e pela excelente aventura.
abraços para os três aventureiros.
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