Em muitas cidades os cidadãos vem
reclamando que as vias públicas não podem continuar a ser um exclusivo dos
automóveis e que as zonas históricas e residenciais devem ser centros de cultura e lazer, zonas de comércio e
serviços, onde deve ser dada prioridade às bicicletas e aos peões, e onde o número de
carros estacionados ou a circular deve ser reduzido ou mesmo proibido.
A bicicleta é um meio de
transporte acessível a todos os tipos de pessoas, independentemente da idade ou
nível socioeconómico, não emite gases poluentes, não faz barulho, exige pouco
espaço e baixo investimento em infraestruturas e ajuda a resolver problemas do
ambiente, dos transportes e do trânsito.
Na cidade dinamarquesa Copenhaga, que lidera o ranking 2015 das cidades mais amigas da bicicleta, todos os anos o governo dinamarquês investe 3 milhões de euros na criação e conservação de infraestruturas cicloviárias e só na zona metropolitana de Copenhaga existem mais de 1000 km de ciclovias, com 36% dos seus habitantes a pedalarem diariamente para o trabalho, escola ou universidade e apenas 29,1% dos habitantes de Copenhaga possuem automóvel.
Na Alemanha, incentivados por uma rede com 60 000km de ciclovias conjugada com
políticas pró bicicleta, cerca de 40
milhões de alemães utilizam regularmente a bicicleta nos trajetos
casa-trabalho.
A
cidade francesa de Estrasburgo promoveu a utilização da bicicleta ao mesmo
tempo que encerrou o centro da cidade ao trânsito automóvel e atualmente tem a
maior ciclovia de França com 560km, 19 000
lugares de estacionamento de bicicletas e cerca de 4 400 bicicletas de
aluguer espalhadas pela cidade. Em
Paris, em resultado da conjugação entre o programa de transportes públicos
e de aluguer de bicicleta, atualmente 60%
dos parisienses não possui carro. Em Nova Iorque, na última década, foi
feita uma grande campanha de promoção do uso da bicicleta e muitas faixas
rodoviárias foram requalificadas em ciclovias ou vias pedonais. A cidade tem hoje mais de 550km de ciclovias e
cerca de 6 000 bicicleta de aluguer.
Na América do Sul,
grandes metrópoles como Bogotá, Buenos Aires, Rio de Janeiro e São Paulo também
tem investido muito na promoção do uso da bicicleta, como alternativa aos
problemas de trânsito e poluição.
Benefícios da utilização da bicicleta nas cidades
Vários estudos tem
comprovado que as cidades que nas últimas décadas
mudaram as políticas de mobilidade urbana adotando medidas de incentivo à utilização da bicicleta em detrimento dos
meios motorizados, tem registado um progressivo aumento do número de ciclistas
utilitários e de lazer, com evidentes benefícios para os indivíduos, para a
sociedade e para o ambiente.
A bicicleta é um equipamento
com baixo custo de aquisição e manutenção, ocupa pouco espaço, não exige
grandes investimentos em infraestruturas e promove a democratização do espaço
urbano e a inclusão social de todas as classes sociais e faixas etárias. A
bicicleta enquanto meio de transporte constitui o modo de deslocação mais rápido,
eficiente e ajustado nas deslocações em meio urbano até 3km, em particular nas
horas de ponta.
O seu
uso tem contribuído para a redução de acidentes e engarrafamentos.
A perfeita combinação entre os transportes públicos e a
bicicleta é outra vantagem que permite ganho de tempo considerável para os
ciclistas nas curtas e médias distâncias. Além disso, as pessoas que se
deslocam para o trabalho de bicicleta são mais bem-humoradas, tem uma atitude
mais positiva no trabalho, faltam menos por motivos de saúde, tem menos atrasos
e menos horas perdidas nos engarrafamentos e são mais produtivos como resultado
de uma melhor forma física e boa saúde mental.
O impacto
da bicicleta
na saúde tem sido objeto de vários estudos que identificaram
benefícios para a circulação e tónus muscular dos membros inferiores, redução
da probabilidade de obesidade, das doenças do coração, da diabetes e de alguns
tipos de cancro, diminuição do stresse, ansiedade e depressão.
A bicicleta é um
meio de transporte amigo do ambiente. Não utiliza combustíveis fósseis, não
emite poluentes como o monóxido de carbono, não aumenta o efeito estufa, não
contribui para o aumento dos índices de problemas respiratórios e não polui as
águas, nem provoca ruído ambiente.
O impacto económico positivo resultante da maior utilização da bicicleta
em muitas cidades do mundo, tem-se traduzido na redução do consumo de combustíveis fósseis, na diminuição das despesas com a saúde, na diminuição dos gastos diretos e
indiretos associados ao automóvel, no transporte para a escola e para o
trabalho.
No
último relatório da London School of
Economics o sucesso económico do uso da bicicleta no Reino Unido
foi quantificado em aproximadamente 4 biliões de euros e dados relativos
ao cicloturismo, comprovam que os países amigos da bicicleta são também aqueles
que mais turistas de bicicleta atraem, com a Alemanha e a França lideram a lista dos países do mundo que maior
número de cicloturistas atraiem, com um retorno económico anual superior a 2000 milhões de euros.
Fatores que
influenciam a utilização da bicicleta nas cidades
As cidades onde
existem políticas favoráveis à utilização da bicicleta, quer ao nível das
infraestruturas, quer ao nível das medidas de acalmia do tráfego, quer através
de programas de formação e educação, são as que tem maiores taxas de utilização
da bicicleta.
Políticas urbanas
Um planeamento
urbano favorável ao uso da bicicleta deve considerar a bicicleta como meio de
transporte, proporcionando boas condições de deslocação a toda a população no
acesso a lojas, escolas, serviços públicos, equipamentos coletivos e empregos, garantindo
a segurança dos ciclistas, integrando a bicicleta com os outros meios de
transporte, adequando a legislação existente e eliminando as barreiras
urbanísticas que dificultam a deslocação dos ciclistas
Uma análise das
medidas de planeamento urbano adotadas pelas cidades que pretendem promover a bicicleta
enquanto meio de transporte permitiu identificar os seguintes fatores determinantes:
- Existência de políticas de redução da capacidade disponível de
estacionamento de carros no centro das cidades.
- Redução do número de faixas para a circulação automóvel e a criação de
zonas restritivas aos veículos automóveis.
- Implementação de medidas ativas e passivas de acalmia do tráfego que
forcem os carros a circularem mais devagar
- Existência de vias específicas para ciclistas, nomeadamente ciclovias ou faixas compartilhadas com transportes públicos
- Existência de vias específicas para ciclistas, nomeadamente ciclovias ou faixas compartilhadas com transportes públicos
- Melhoria dos
pavimentos e da iluminação das vias cicláveis.
- Existência de estacionamento seguro e de medidas que ajudem a reduzir o
roubo de bicicletas.
- Planeamento do estacionamento
automóvel nas ruas da cidade tendo em conta a segurança dos ciclistas
- Entidades empregadoras amigas dos ciclistas, que disponibilizam balneários e
estacionamento.
- Integração com outros meios de transporte, com estacionamento junto às
estações de transportes públicos.
- Possibilidade de transportar bicicletas nos autocarros, comboios ou
metro.
Existência de vias cicláveis
Existe uma forte correlação entre os níveis de utilização da bicicleta
e a existência de ciclovias.
De acordo com as fichas
técnicas editadas pelo governo francês os
trajetos das ciclovias devem ser diretos, coerentes, confortáveis, atraentes e
seguros.
- Deve garantir aos ciclistas um nível elevado de segurança quer em relação aos veículos motorizados, quer em relação ao pavimento, ás bermas e valetas.
- Deve estar adaptada a
todos os ciclistas
- Deve procurar os itinerários
mais diretos entre os bairros e o centro da cidade ou entre cidades
- Deve ter uma sinalização
específica e homogénea em todo o território
- Deve ser objeto de
manutenção periódica que permita uma utilização permanente e durante todo o ano
Medidas de acalmia do trânsito
A segurança dos ciclistas não depende apenas da construção de infraestruturas. As cidades amigas da bicicleta tem complementado os investimentos em ciclovias e estacionamentos para bicicletas, com medidas de acalmia e redução do tráfego, sendo as mais comuns as seguintes:
A segurança dos ciclistas não depende apenas da construção de infraestruturas. As cidades amigas da bicicleta tem complementado os investimentos em ciclovias e estacionamentos para bicicletas, com medidas de acalmia e redução do tráfego, sendo as mais comuns as seguintes:
- Redução do número
de faixas rodoviárias
- Diminuição dos lugares
de estacionamento automóvel no centro das cidades.
- Criação de zonas
restritivas aos veículos automóveis
- Implementação de
zonas de velocidade máxima 30km/h na maioria das ruas dos bairros residenciais
e do centro da cidade.
- Sistemas de controlo
e fiscalização da velocidade.
- Requalificação de
faixas rodoviárias exclusivas para os automóveis em vias de trânsito partilhado.
- Requalificação de ruas em vias de sentido
único para os carros e com dois sentidos para os ciclistas.
- Colocação de pavimento
empedrado no centro das cidades para baixar a velocidade dos automóveis.
- Transformação de retas em
trajetos sinuosos (chicanes).
- Sinalização nos
cruzamentos com prioridade para os ciclistas.
- Sinalização de stop para ciclistas colocada alguns metros à frente da
linha stop dos carros.
- Aproximação aos cruzamentos
sem obstáculos que dificultem a visualização de todos os utilizadores da via
pública.
- Barreiras para
impedir a entrada de carros em zonas exclusivas para ciclistas e peões.
- Estreitamentos e
lombas à entrada de zonas residenciais e escolas.
- Rotundas com
pistas com prioridade para os ciclistas.
- Requalificação de cruzamentos em mini rotundas com lomba de calote
esférica.
- Construção de lombas
nas passadeiras.
- Semáforos com
temporização diferente para ciclistas.
Bicicletas
públicas e de aluguer
Os serviços de
aluguer ou partilha de bicicletas tem crescido de popularidade por todo o
mundo, pois permitem a um número importante de pessoas experimentar a bicicleta
antes de passar à sua aquisição, sem correrem o risco de roubo e sem terem que
enfrentar a dificuldade em encontrar estacionamento.
Em Barcelona, o sistema de
partilha de bicicletas Bicing, criado com o
objetivo de encorajar os residentes e os turistas a fazerem as pequenas viagens
de bicicleta em vez do carro, conta atualmente com mais de 6000 bicicletas distribuídas
por 420 estações. E na cidade de Nova Iorque, entre Manhattan e Brooklyn, existem
mais de 6 mil bicicletas de aluguer, espalhadas por 333 estações.
Estacionamento
para bicicletas na cidade
A ausência de estacionamento associada ao
risco de furto são os principais fatores
desmotivadores do uso da bicicleta.
Nas cidades com
políticas amigas da bicicleta tem-se assistido a um aumento progressivo
da oferta de estacionamento para
bicicletas nas zonas residenciais, nos locais de emprego, nas escolas e
universidades, junto das lojas e serviços e nas zonas de interface com os transportes
públicos. O número de estacionamentos cobertos e vigiados também tem aumentado,
tal como a oferta privada de serviços de estacionamento, aluguer, reparação e
balneários para ciclistas.
Algumas cidades,
como é o caso de Dublin, obrigam os parques de estacionamento públicos a
disponibilizar 15% de lugares para estacionamento de bicicletas.
Incentivos e facilidades nos locais de
trabalho e nas escolas
Atualmente muitas
entidades empregadoras criam vários incentivos para desafiar os seus empregados
a deslocarem-se de bicicleta para o trabalho, disponibilizando vestiários, chuveiros, estacionamentos e
oficina. E oferecem outros incentivos como flexibilidade de horários, bonificação que se traduz em folgas e dias
de férias, subsídios por
quilómetros pedalados, comparticipação na aquisição da bicicleta.
Nos últimos anos,
muitas cidades europeias com políticas favoráveis ao uso da bicicleta, têm
implementado programas com o objetivo de ensinar as crianças a andar de
bicicleta e a conhecer as regras de trânsito. Em algumas cidades, pais e
professores organizam itinerários ao longo dos quais recolhem e acompanham
grupos de estudantes no trajeto casa escola.
Integração com
outros meios de transporte
A integração da bicicleta com outros
meios de transportes e a facilidade em transportar a bicicleta nos transportes públicos tem sido um sucesso em várias
cidades e é mais um fator incentivador à utilização da bicicleta junto dos
cidadãos que moram longe do centro da cidade, mas a uma distância ciclável das
estações.
Na Dinamarca é permitido levar as bicicletas nos comboios e no metro, em
carruagens específicas. E em várias cidades da Alemanha é possível transportar
a bicicleta em qualquer transporte e a qualquer hora do dia. Em várias cidades
do Canada e Estados Unidos os autocarros tem suportes externos para o
transporte de bicicletas e em França, um dos maiores destinos de cicloturismo
do mundo, algumas carruagens dos comboios normais e de alta velocidade tem sido
convertidas para poderem transportar bicicletas
Mentalidades
O aumento da utilização da bicicleta enquanto meio de transporte, também é influenciado
por questões culturais. A par de tantas outras medidas, há que mudar mentalidades
de modo a alterar a imagem pública do ciclismo e a mudar comportamentos que limitam todas as potencialidades
associadas ao uso da bicicleta enquanto modo de transporte.
A implementação de uma
nova cultura em torno da bicicleta passa por um conjunto de iniciativas como passeios, seminários,
workshops, exposições, livros, vídeos, folhetos educativos, e também por campanhas junto da população para que
todos tomem conhecimento de que as bicicletas são uma realidade no trânsito e
que deve haver mais respeito pelo ciclista e mais consciência sobre a sua
vulnerabilidade.
Conclusão
Nas cidades onde nos últimos anos foram implementadas medidas efetivas de incentivo à utilização da bicicleta, diminuiu a poluição e o ruído, há
menos engarrafamentos e são evidentes as melhorias na saúde e na qualidade de
vida dos cidadãos.