terça-feira, 18 de novembro de 2014

A Costa da Andaluzia em bicicleta (Agosto de 2014)


1 - Introdução

Em 2012 iniciámos o projeto “Volta à Península Ibérica em bicicleta”, pedalando durante 8 dias pela costa norte de Espanha desde Irun até Santiago de Compostela, num total de 951kms. Como grande parte deste percurso coincidia com o caminho de Santiago do Norte, decidimos viajar como peregrinos e pernoitar nos albergues e em Ribadeo desviámos para o interior em direção a Santiago de Compostela.
 
Em 2013, continuámos o projeto recomeçando em Ribadeo e durante 9 dias pedalámos pela costa da Galiza até à fronteira com Portugal (760kms) e continuámos pela costa portuguesa até Aveiro, onde apanhámos o comboio de regresso a casa, o que deu um total de 955kms.
Durante os primeiros meses de 2014 pedalámos pela costa portuguesa e na primeira semana de Agosto de 2014 continuámos este projeto pela costa da Andaluzia, de Tavira até Almeria, durante 7 dias, num total de 791 km.
 
 
2 – Andaluzia

A Andaluzia (em espanhol: Andalucía) é uma comunidade autónoma de Espanha localizada na parte meridional do país e a sua capital é a cidade de Sevilha. O seu nome provém de Al-Andalus, nome que os muçulmanos davam à Península Ibérica no século VIII. É uma terra de cultura, história, festas, natureza e boa comida, com monumentos impressionantes e um ambiente natural cheio de contrastes, celebrações populares genuínas e uma gastronomia

3 - As etapas

A costa da Andaluzia tem mais de 900 quilómetros, porém, por razões logísticas começámos em Tavira, onde deixámos o carro e terminámos em Almeria, para poder regressar de comboio.

Etapa 1  - Tavira – Mazágon   (126km)

Viajámos para o Algarve de carro na sexta feira à noite, dia 1 de Agosto e dormimos no sótão da casa de uns amigos em Tavira.
No sábado acordámos cedo, preparámos os alforges, tomámos o pequeno almoço numa pastelaria e iniciámos a viagem por volta das 8h30 com a primeira foto sobre a ponte da ria de Tavira.


O tempo estava fresco e com nuvens e apanhámos alguns pingos de chuva durante os primeiros quilómetros. Seguimos pela N 125, passando por Manta Rota, Altura, Monte Gordo. Em Vila Real de Santo António, depois de 23 km pedalados, atravessámos o rio Guadiana de ferry e eram 11 horas quando chegámos a Ayamonte, onde começou a viagem pela Andaluzia. Seguimos em direção a Huelva, passando por muitos laranjais muito bem tratados. Após 10km virámos em direção a Isla Cristina, onde fizemos uma paragem para comprar comida e almoçar em frente da ria.


Continuámos junto ao mar, pela praia de Isla Antilha, com uma bela e original igreja e muitas vivendas em cima da praia. Entretanto a meteorologia melhorou, o sol apareceu, mas a temperatura continuava amena e o vento favorável.
Atravessámos Cartaya, onde merece destaque o seu castelo, e continuámos por uma estrada ao lado das lagoas de El Portil com ótima vistas para as belas praias.


Entretanto virámos em direção a Huelva e seguimos pela espetacular via verde que segue sempre próximo da ria. Mais à frente passámos por uma lagoa com uma espetacular tonalidade cor de rosa, a fazer lembrar o famoso Lac Rose, onde terminava o rallye Paris-Dakar.


Cruzámo-nos com muita gente a andar a pé e de bicicleta. Depois de atravessar a ponte de Huelva, virámos de novo em direção à costa sempre pela espetacular via verde.

 
À entrada do porto de Huelva passámos junto do monumento em homenagem a Cristóvão Colombo, oferecido pelos Estados Unidos ao povo espanhol. Continuámos pela zona portuária, ao lado de refinarias e depósitos de carvão, e o primeiro dia terminou no camping de Mazágon, muito bem localizado em frente do mar.
Depois de montar as tendas e de tomar um banho, jantámos no restaurante do parque e fomos para a cama por volta da meia-noite.


2º dia - Mazágon – Puerto de Santa Maria (110km)

Acordámos por volta das 8h00 e depois de tudo preparado e de tomado o pequeno-almoço, começámos a pedalar por volta das 9h30, numa ciclovia muito tranquila. Era meio-dia e meio quando passámos por Matalascãnas, onde fizemos uma paragem para dar um mergulho e para comer um gelado. Estava sol, mas a temperatura amena o que era ótimo para pedalar.

 
A partir daqui haviam duas opções:
- pelo interior contornando o Parque Nacional de Doñana, (um território com mais de 100.000 hectares de área protegida, considerada uma das zonas mais valiosas do continente europeu) e pedalar cerca de 150km.
- ou aproveitar a maré baixa e pedalar cerca de 30km pela praia e atravessar de ferry o rio Guadalquivir para a cidade de Sanlúcar de Barrameda.
 

Optámos por ir pela praia e acabou por ser uma experiência espetacular. Foram cerca de 4 horas a pedalar (e com a bicicleta à mão!) por praias desertas. Depois de tirarmos algum ar aos pneus tornou-se bastante mais fácil pedalar na areia e as paragens foram menos frequentes. Apesar de estarmos com sede e com fome, pois só tínhamos almoçado uma melancia, não podíamos parar pois se a maré subisse tornar-se-ia impossível pedalar e iríamos demorar muito mais tempo.
 

Na parte final fomos abordados pela Guarda Civil espanhola, que nos obrigou a uma paragem de cerca de 20 minutos. Pediram-nos a identificação e averiguaram o nosso cadastro.
A travessia para Sanlúcar de Barrameda na desembocadura do rio Guadalquivir foi rápida mas o preço um pouco exagerado…10€ para uma travessia com cerca de 200m. Na outra margem parámos para descansar, tomar um banho na praia e lanchar pão com presunto e melão.
Como já passava das 18h00 e o objetivo era chegar a Puerto de Santa Maria, optámos por seguir pelo caminho mais curto e por isso não passámos pelas praias de Chipiona e Rota. Foi uma etapa dura, pois o pedalar na areia tinha-nos rebentado com as pernas, mas o vento pelas costas foi uma preciosa ajuda.
 
Eram cerca de 21h00 quando chegámos ao camping, mesmo em frente da praia. Depois de montar as tendas e tomar um banho fomos a pé até ao centro de Puerto de Santa Maria onde comemos um delicioso sortido de marisco e umas “cañas”.
Foi uma etapa dura, pela sua extensão (110km), mas principalmente pelo pedalar na areia, pelo que quando caímos na cama adormecemos quase de imediato.
 
3º dia – Puerto Santa Maria – Zahara de los Atunes (99km)

Eram cerca de 9h30 quando iniciámos a 3ª etapa. Tínhamos duas alternativas para chegar a Cádis: por terra ou por mar. Optámos pela travessia em catamaran que nos levou diretamente ao centro desta bela cidade.

 
Pedalámos pelo centro histórico, visitámos a catedral e a fortaleza, passámos pelas praias e à saída comprámos comida e almoçámos à sombra num jardim. Passava das 14horas quando atravessámos a língua de areia de 7kms que nos leva a San Fernando e foi aqui que tivemos o primeiro furo da viagem.


A seguir e para chegar a Chiclana de la Frontera tivemos que pedalar na ponte da autovia, a única hipótese de atravessar o rio.
Um pouco depois, quando estávamos a 10km de Conil de la Frontera, saímos da autoestrada e entrámos num pinhal para “aliviar a tripa”, quando mais uma vez fomos abordados pela Guarda Civil que de novo nos pediu a identificação e nos alertou que aquela era um zona perigosa de droga e prostituição.
Depois de Conil de la Frontera, passámos perto do farol de Trafalgar, e depois tivemos que enfrentar uma enorme subida, e quando olhámos para trás desfrutámos de uma espetacular vista para o farol.

 
No final da subida parámos num parque de lazer para lanchar e depois foi descer até Barbate onde passámos pelas 19h30.
Continuámos em direção a Zahara de los Atunes, numa estrada magnífica, sempre à beira mar, com o vento a ajudar. Passámos por alguns bunkers defensivos do tempo da guerra.
Depois de instalados no camping de Zahara de los Atunes, fomos jantar ao centro da povoação para experimentar a especialidade da região o atum vermelho – uma delícia! Fomos dormir por volta das 23h30.
 
 4ºdia – Zahara de los Atunes – Manilva  (106 km)

Iniciámos esta jornada por volta das 10h00 da manhã e tivémos que nos afastar cerca de 10km para o interior da costa para apanhar a estrada N 340 para Tarifa. Passámos perto das ruínas romanas de Baelo Claudia, junto à praia de Bolónia, mas como era muito a subir, optámos por não ir lá.
 
Alguns quilómetros depois passámos pelo centro da cidade boémia de Tarifa, um dos locais na moda em Espanha, a capital europeia do Windsurf e do Kitesurf, onde fizemos uma paragem para almoçar. 
Estávamos a 18km de Algeciras, mas foi preciso subir bastante e passar dois portos de montanha para desfrutar de belas vistas para o estreito de Gibraltar …e Africa  ali tão perto.
 

Entretanto iniciámos a descida e é fantástica a primeira vista do rochedo de Gibraltar. A temperatura estava muito mais elevada em Algeciras, pelo que fomos obrigados parar num jardim da cidade, beber um refresco e dormir uma sesta no jardim á espera que a temperatura baixasse um pouco.
Regressámos à estrada e durante alguns quilómetros não tivemos alternativa do que circular na autovia para San Roque. A partir daqui continuámos por uma estrada secundária que nos levou ao condomínio de luxo Sottogrande, repleto de grandes vivendas, com enormes jardins. Quando chegámos à praia ficámos deslumbrados com a marina – uma pequena Veneza, onde os canais permitem que os barcos atraquem à porta das vivendas.

 
Eram 20h30 quando chegámos ao camping de Manilva – o mais luxuoso, mas também o mais caro, os três pagámos 56€.
Montámos as tendas e ainda fomos tomar um banho no mar no momento em que o sol se estava a pôr. Foi um mergulho rápido porque a água estava gelada. Jantámos num restaurante na praia próximo do camping.

5º dia –Manilva – Vale do Niza  (132 km)

Antes de levantar o acampamento assistimos a um espetacular nascer do sol no mar.


Depois fomos ao supermercado comprar comida para o pequeno almoço e fomos comer junto à praia.
Iniciámos a viagem e a primeira paragem foi em Estepona onde fomos aos correios enviar postais para casa.
Logo a seguir voltámos à movimentada autovia. Estávamos a 20km de Marbella e a 70 de Málaga.

 
Em Marbella circulámos por uma via verde de terra compacta que se prolonga por vários quilómetros, com muitos restaurantes junto às praias. Fizemos uma paragem para um mergulho e continuámos nesta ecovia.
Mais à frente fizemos uma paragem para almoçar numa pizzaria junto à praia.
Depois voltámos à stressante N-340 sempre com muito trânsito.

 
Próximo de Fuengirola optámos por ir mais perto do mar para mais tranquilidade. Nesta região apanhámos nevoeiro próximo e a temperatura ficou bem mais agradável para pedalar.
É bonita a aproximação do casario branco de Fuengirola, cuja praia é enorme com mais de 4 quilómetros.
Mais à frente outra bela praia Benalmadena, com muito turismo, belas praias e uma das belas marinas da Europa, onde os apartamentos se ligam com a marina, entra-se de carro num lado e no outro estão os iates.

 
Uns quilómetros à frente outra praia muito conhecida – Torremolinos – que nos tempos de estudante era o principal  destino das viagens de finalistas.
Passámos por Málaga uma cidade enorme que se estende por muitos quilómetros até chegar ao centro onde visitámos o centro. Perguntámos por um camping e ficámos a saber que o mais próximo ficava a mais de 20kms.


Já estava a anoitecer pelo que tivemos que nos pôr à estrada. e pudemos desfrutar de um belo pôr do sol, na praias de Málaga. Mais à frente ligámos as luzes e a viagem acabou por ser agradável, pois já havia menos trânsito e o fresco da noite tornou mais agradável com vistas bonitas sobre as cidades e praias iluminadas.
Neste dia fizemos 132km e foi já noite dentro que chegámos ao parque de Vale de Niza.


6º dia – Vale do Niza – Calahonda  (97km)

Passámos na praia de Ayamate e logo a seguir em Torre del Mar, onde parámos para o pequeno almoço. A praia também é muito bonita e a ciclovia muito agradável rodeada de palmeiras e com excelente piso para as bicicletas.

 
Depois passámos na praia de Lagos, por uma estrada bonita e tranquila.
Mais à frente passámos por Nerja uma cidade muito turística, fica numa colina e estende-se por ruelas até ao mar, onde uma das grandes atrações é o miradouro Balcon da Europa, mas como estava nevoeiro não fomos lá.
Continuamos pela N 340  por uma região montanhosa e fartámo-nos de subir  e atravessar o Túnel de Cierro Gordo. Depois de uma descida espetacular chegámos à praia de Herradura, onde parámos para descansar e beber uma “monster”.

 
Continuámos e voltámos a subir mais uma montanha e passámos o túnel de la Punta de la Mona e pudemos desfrutar de uma bela vista sobre Herradura. Descemos para a praia de Almuñecar com o castelo a encimar o casario branco e fizemos uma paragem para almoçar.
 

Depois de mais algumas subidas com vistas espetaculares, descemos até à praia de Salobreña e depois passámos ao largo de Motril. E foi a partir daqui que começámos a apanhar estufas. Continuámos pela costa até Calahonda passando por Torrenueva e Carchuna repleta de estufas que se estendem até ao mar. Como o parque ficava em Carchuna tivemos que andar cerca de 3km para trás.

7 dia - Calahonda – Almeria  121km

Saímos do parque de campismo eram 8h30, atravessámos Calahonda e começámos logo a subir por uma bela estrada de montanha ao lado do mar com vistas espetaculares e espetacular foi a chegada a Castell de Ferro com bonita vista para a praia e para as muitas estufas pela encosta acima.

 
Depois de passar esta praia tranquila voltámos a subir por mais uma espetacular estrada sobranceira ao mar. Em La Rijana fizemos uma paragem para tomar o pequeno almoço e depois descemos para Castillo de Baños e parámos em La Mamola.


 

Uns quilómetros à frente outra paragem na pequena e tranquila praia de Lance de la Virgen para mais um banho no mar. Entretanto chegámos à cidade de Adra, onde almoçamos e dormimos uma sesta.

 
Esta etapa está a ser um dos dias mais bonitos da viagem, por estradas com pouco movimento e sempre junto ao mar com paisagens magníficas.
 
 
Atravessamos Balermo, e continuamos por um extenso areal com praias de um lado e estufas do outro.
A partir de Balermo são vários quilómetros ao lado das estufas até à  muito turística cidade de Almerimar, com aldeamentos, uma marina muito interessante, campos de golfe, etc. Tivemos que voltar um pouco atrás para apanhar a estrada até Roquetas del Mar onde parámos para lanchar e remendar novo furo.


Continuámos no passeio marítimo da bela praia e tomámos mais um banho com a água a uma temperatura ótima.
Logo a seguir a enorme cidade de Aguadulce com uma praia e porto de pesca.

 
Mas para chegar a Almeria faltava percorrer mais uma espetacular estrada com falésias íngremes de um lado e o mar do outro. Imponente e espetacular, com falésias que caiam a pique sobre o mar.


Nesta altura o sol estava a pôr-se por detrás de Aguadulce e as cores do céu eram espetaculares.
O dia foi escurecendo e ligámos as luzes antes de passar 2 túneis  perto de Almeria.


Chegámos a Almeria de noite. Passava das 21h00 e o primeiro objetivo foi procurar a estação dos comboios para comprar bilhetes para conseguir regressar na madrugada seguinte. Por sorte conseguimos 3 bilhetes para as bicicletas (o limite máximo de bicicletas por comboio) para o comboio das 6h15. Como o camping ficava longe, chegámos à conclusão que não valia a pena o trabalho a montar e desmontar acampamento para dormir apenas 4 ou 5 horas.
 
 
A ideia inicial era tomar um banho na praia, mas como já era tarde, tomámos um banho à gato na casa de banho da estação jantámos um McDonalds e fomos descobrir a cidade, visitámos a catedral e o castelo E depois ficámos na avenida das Ramblas à conversa e a ver o pessoal que vinha dos bares… até chegar a hora de ir apanhar o comboio.

 
Regressámos de comboio até Sevilha (6h de viagem com paisagens muito bonitas). Em Sevilha tivemos que esperar algumas horas antes de apanhar o comboio para Huelva. Enquanto esperámos pelo comboio houve tempo para um passeio pela zona histórica.
 
 
E eram 19h quando os nossos amigos de Tavira nos foram buscar a Huelva…
 
 
Balanço

Foi uma semana muito bem passada, em ritmo tranquilo, quase sempre próximo do mar. Passámos por belas praias com águas limpas e  o mar sempre  flat. Quase sempre com excelentes ciclovias junto às praias.
Andámos quase sempre por estrada e algumas vezes tivemos que circular  nas autovias do Mediterrâneo, por ser a única estrada existente…mas era bastante stressante!
Acampámos sempre em parques de campismo junto ao mar e quase todos os dias terminaram com um mergulho no mar junto ao camping.
As bicicletas portaram-se bem… apenas 2 furos e um problema num desviador.
Quanto aos meus companheiros de viagem mais uma vez foram uma excelente companhia. Tomámos empre as decisões de forma consensual e reinou sempre a boa  disposição e o companheirismo



 
Próximas etapas

O projeto volta à península Ibérica em bicicleta irá continuar no próximo ano e o objetivo será pedalar por toda a costa leste, desde Almeria, até chegar aos Pirinéus passando por Cartagena, Alicante, Valência, Terragona, Barcelona… num total de cerca de 1100km.
 
Vítor Milheiro

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